Laerte fala sobre preconceito e relembra processo de aceitação

Laerte
Laerte (Foto: Reprodução)

Laerte, chargista e cartunista de 70 anos, abriu o coração durante conversa com Marcelo Tas no programa ‘Provoca’, da TV Cultura. Na entrevista, ela falou sobre o preconceito que já sofreu e ainda sofre por ser uma mulher trans e também relembrou seu processo de aceitação e reconhecimento de identidade.

“Mulher tem um lugar histórico, social, que é muito claro, muito nítido. E a população trans, transgênero, tem um lugar que é distinto desse. Mas pessoas trans que se identificam como mulher não têm problema nenhum em haver essa amálgama, essa combinação de interesses, de objetivos e de luta. Eu já fui hostilizada por pessoas trans também, que ficavam perguntando: ‘Cadê o peito? Quando você vai colocar peito?'”, desabafou a cartunista.

Laerte explica que evita lembrar de algumas situações de preconceito que já sofreu. “Quando a gente nega uma coisa, a gente acaba abrindo determinadas válvulas de compensação que são ruins, te levam a momentos de raiva, destempero. E muitas vezes você não sabe o porquê direito (…).”, destacou ela, que demorou cerca de 30 anos para reconhecer sua verdadeira identidade.

“Eu fiquei me enrolando por trinta e tantos anos. Eu sabia que eu gostava de homem. (…) Porque eu fiquei assustada com a possibilidade de ser gay, de ser viado, de ser bixa, de ser invertido, sabe? Isso tudo era uma coisa muito assustadora para mim, muito peso”, afirmou a cartunista.

Na entrevista, Laerte também comentou sobre a síndrome do impostor: “Eu não digo (síndrome da) impostora, mas muitas vezes sinto que as pessoas estão me entendendo de uma maneira muito mais generosa do que deviam”, declarou ela, que afirmou estar trabalhando a autocrítica em análise.

“Sou uma mulher possível”

Em entrevista ao jornal Unidade, em 2018, Laerte foi questionada sobre sua definição. A cartunista, então, declarou: “Do ponto de vista de gênero, estou cada vez mais tranquila (risos). Eu sou uma mulher possível, sou o que eu queria ser. Sou uma transição, sou isso, transgênera. Eu não fiz minha transição, estou fazendo e sei lá quando acaba.”, disse ela, na época.

“O que quero ser é algo que já estou sendo. Não tenho muitos problemas em me afirmar como mulher, ou como uma mulher possível, ou uma mulher em trânsito. Estou no feminino e isso é definitivo para mim. Tem procedimentos que estou ou em estudo ou fazendo. Estou me hormonizando, por exemplo, e não é mais uma questão de dúvida. Estou tranquila quanto a isso. Sei o que sou e o que estou sendo. Então, do ponto de vista de gênero, estou bem! [risos].”, acrescentou.