Tarso Brant fala de transfobia no BBB 22 e protesta por respeito

Tarso Brant reflete sobre transexualidade e realities (Reprodução)
Tarso Brant reflete sobre transexualidade e realities (Reprodução)

Destaque na comunidade trans desde muito jovem, o ator e influenciador Tarso Brant chamou atenção em 2021 ao ser anunciado como o primeiro homem trans a participar de uma edição do De Férias com o Ex Brasil. Um ano depois, Linn da Quebrada também tem dado o que falar com sua passagem no BBB 2022.

A presença de Lina no programa, que é um dos mais assistidos do Brasil, tem feito a pauta transexualidade ser discutida cada vez mais nos lares do país. A situação ocorre pouco mais de 10 anos depois de Ariadna Arantes sofrer com a rejeição dos telespectadores e ser a primeira eliminada do mesmo reality.

Em entrevista exclusiva para o SpinOff – Entretê, Tarso abriu o coração sobre as polêmicas vividas no reality de pegação da MTV Brasil e como algumas delas também são compartilhadas por Lina no BBB 22.

O ator confirmou que, assim como Lina, também passou por certos constrangimentos envolvendo episódios de transfobia, mas preferiu não gerar conflitos. Tarso disse que também é importante enxergar as violências que não são físicas, contra as pessoas trans.

“Não é só não bater em pessoas assim que “está tudo bem”, existe a parte de educação ao se tratar. Não estamos tratando de “coisas”, somos pessoas como qualquer outra e merecemos respeito”, disse ele.

Confira a entrevista completa:

– Como foi a experiência de participar do De Férias com o Ex Brasil sendo o primeiro trans da história do reality? Houve algum fato constrangedor na aceitação do público?

A experiência do De Férias com o Ex Brasil foi engrandecedor como pessoa e personalidade também. A equipe foi muito acolhedora, tudo muito organizado e a convivência com os participantes foi muito divertida, além de toda a representatividade que isso tem para os telespectadores, por ver pessoas trans como pessoas comuns. É interessante essa discussão, para ver como a simples participação já causa [uma reação] no publico. Acho muito importante a gente falar sobre isso.

– Com a diversidade sendo cada vez mais alvo de debate na mídia, o que a presença de uma pessoa trans em um reality nacional representa para você e para a comunidade?

Desmistifica uma série de preconceitos e tabus desnecessários que ocorrerem na convivência dentro da sociedade, como pessoas que não têm nada de diferente das outras em relação a competência, habilidades e capacidades, principalmente na área do trabalho e saúde. Na indústria do entretenimento, por exemplo, abre muitas portas. Quanto mais visibilidade, quanto mais trabalho, mais a passabilidade vai ser um termo que não precisa mais existir na sociedade.

Passabilidade é termo comum entre homens trans, para falar de pessoas transgênero que não são percebidas [como trans] pelo resto da sociedade. Ou seja, isso deveria ser algo comum, e vai ser a partir de agora, se a gente começar a pensar que estamos refazendo vários conceitos sociais.

– Atualmente Linn da Quebrada se tornou destaque no BBB 22 com sua participação, como você enxerga o desemprenho dela no programa?

Eu estou amando a participação da Lina no BBB 2022. Ela é o exemplo de uma pessoa determinada, focada e disciplinada. Ela sabe se colocar dentro do ambiente, sabe reconhecer o espaço do outro e sabe aconselhar na hora certa.

Ela tem uma postura como pessoa e como mulher, que é incomparável. Esta postura é o que está trazendo esse resultado maravilhoso. Porque nos momentos de perrengue, ela não culpa ninguém e está sempre se virando para estar bem. É um exemplo.

– Linn tem sofrido com o erro do pronome durante o BBB 22, mesmo ela já enfatizando como gostaria ser tratada. Você passou por algo parecido durante o De Férias com o Ex Brasil? Como você lida com esse tipo de situação em sua vida?

A própria falta de entendimento [dos brothers] ao continuarem fazendo algo que é desagradável para outra pessoa, mesmo que seja sem querer, magoa, chateia, mas não é algo que vai fazer ela mudar a personalidade dela pelo erro do outro. É caracterizado como transfobia? Sim, e está acontecendo! Mas não é algo agressivo. É que as pessoas ligam a palavra transfobia a atos de agressividade [a violência física]. Não é só não bater em pessoas assim que “está tudo bem”, existe a parte de educação ao se tratar. Não estamos tratando de “coisas”, somos pessoas como qualquer outra e merecemos respeito.

Eu passei por situações parecidas no De Férias com o Ex Brasil, mas eu preferi seguir encarando de outra forma, como autoconhecimento e no melhoramento das minhas atitudes com o que eu não gostaria para a minha vida. Foi isso que me tirou do tédio do isolamento, que acredito que ela [Lina] deve está sentindo um pouco, um certo desapego do grupo. [No confinamento] A vida começa a ser enxergada com uma ótica mais ampla, a gente amadurece muito.

– Você aceitaria participar de algum reality de confinamento como BBB ou A Fazenda?

Eu encaro todos com uma porta aberta, porque cada um tem uma proposta diferente e eu sou muito curioso para ter essa experiência nos realities que eu já conheço aqui no Brasil. O universo é cheio de possibilidades, não é mesmo? Que ele me encaminhe o que for melhor na hora certa.