Ator de Cara e Coragem, Igor Fernandez fala da novela: “Bateu medo”

Igor Fernandez (Foto: Reprodução)

 O ator Igor Fernandez está no ar em Cara e Coragem, trama das 19h, da Globo. No enredo, o personagem dele, Lucas, faz de tudo para conquistar Anita, interpretada por Taís Araújo. Na vida real, o artista vive um relacionamento com o psicólogo Gabriel Soares, e luta pelas causas da população LGBTQIA+.

Em conversa exclusiva ao Entretê, o famoso comentou sobre preconceito, analisou a trajetória na novela que estreou recentemente, e os desafios na carreira ao lado da arte.

Confira a entrevista:

-Atuar em Cara e Coragem representa o que em sua vida profissional?


Igor Fernandez: Representa uma evolução constante e necessária que todo artista ou qualquer profissional, seja de qual área for, gostaria de ver em relação ao seu trabalho. Estar em “Cara e Coragem” diz muito sobre o que eu fiz durante minha primeira novela, é como se fosse uma confirmação de um bom trabalho feito, já que fui chamado novamente para outro desafio.

“Cara e Coragem” não é uma novela qualquer, principalmente agora que estamos recebendo bastante investimento interno e reconhecimento de fora sobre nosso maior produto, que é a novela brasileira, então a demanda de talento, talento de verdade, mais do que nunca é exigida para estar ali atuando neste produto, e se estou é porque o meu trabalho está sendo bem feito e reconhecido. Fico muito feliz por isso.

-Como é contracenar com Taís Araújo?


Igor Fernandez: É sempre uma aula e uma inspiração sem igual estar ao lado dela. Confesso que me bateu um medo porque descobri que teríamos várias cenas juntos bem antes do início das gravações, e isso já foi o suficiente para alguns momentos de pura ansiedade, tentando imaginar como eu lidaria com o fato de atuar com a gigantesca energia de talento e carreira de um dos maiores nomes da Globo.

Agora posso dizer: está sendo incrível e uma baita aula para mim, fico atento a todos os movimentos e sempre tento chegar afinadíssimo para as gravações, para garantir ao alto nível de atuação que, com certeza, a Taís entrega todos os dias.

-O personagem Lucas tem semelhanças com você na vida real?


Igor Fernandez: O que me encanta no personagem é também o que me aproxima dele, a sua alma de artista e sua disposição para qualquer parada que vier. Lucas tem um espírito aventureiro, é do bem, alto astral, um garoto animado e que está sempre sorrindo, sempre de bem com a vida, e acho que é aí que nossas almas se encontram.

Lucas não tem medo de ir atrás dos seus sonhos, e olha pra mim, um garoto que saiu do interior de Minas Gerais para viver da sua arte e até hoje está prosperando. Acho que se Lucas existisse ele teria feito o mesmo que eu. Somos sonhadores iguais.

-Como foi a preparação para interpretar Lucas em Cara e Coragem?


Igor Fernandez: Lucas nunca foi questionado sobre seu talento para a dança, então foi apoiado nessa visão que decidi pegar firme nas preparações para viver o personagem. Comecei um pouco errado, confesso, quando li sobre “dança vertical”, peguei firme nos treinos de tecido acrobático em casa (Cataguases, Minas Gerais), porque acreditava que era disso que iria se tratar.

Só que, quando chegaram as preparações oficiais em janeiro deste ano, a coisa era completamente diferente! Dança vertical é uma modalidade que você trabalha movimentos enquanto está preso pelos equipamentos em alguma parede alta, como praticantes de rapel, mas ao invés de escalar o dançarino faz acrobacias e movimentos de dança pendurado nas alturas.

Fizemos um curso para trabalhos em altura e em seguida ficamos mais ou menos dois meses de preparação diária com Adelly Costantini, lá dentro dos Estúdios Globo. O trabalho foi delicado porque envolve altura e um bom preparo físico, mas a Adelly sem dúvidas tirou o melhor de nós, e eu tenho certeza de que o que estamos fazendo irá agradar o público visualmente. Tá lindo demais!

-Qual o seu maior desafio com o personagem?


Igor Fernandez: Acho que o maior desafio pra mim foi uma questão de energia, porque o Lucas é muito parecido com o Luan, o personagem que interpretei na novela passada “Bom Sucesso”, então tive que quebrar a cabeça para dar uma outra vida a personagens tão parecidos.

São dois jovens, artistas, namoradores e felizes, sempre de bem com a vida, ou seja, o desafio era saber onde encontrar as diferenças físicas e emocionais entre Lucas e Luan para que um não ficasse parecido com o outro. Acredito que o desafio já foi concluído, porque até hoje nenhuma pessoa veio me falar sobre a semelhança entre os dois personagens, então quer dizer que consegui resolver a bendita questão.

Inspiração na carreira


-Se inspira em atores/atrizes brasileiros?


Igor Fernandez: Com certeza! Na verdade, a minha maior inspiração são meus professores, que também são atores, e que dedicaram uma parte de suas vidas compartilhando o conhecimento comigo e me formaram o ator que sou hoje, são alguns deles Carlos Sérgio Bittencourt, Marco Andrade, Bia Oliveira, e por aí vai…

Agora atores que me inspiram nas telas ou nos palcos eu também tenho um montão, mas os que ultimamente sempre me servem de inspiração e estudo são: Jesuíta Barbosa, Juan Paiva, Lázaro Ramos, Ailton Graça, e, claro, meu querido amigo Romeu Evaristo, que, além de todas as trocas que tivemos, eu ainda tinha a sorte e o prazer de dividir o camarim com ele durante um trabalho longo, e ficávamos os dois lá, criando poesia e filosofando sobre a vida. Tenho sorte de ter minhas inspirações perto de mim.

-Qual é o seu maior sonho na carreira?


Igor Fernandez: Meu maior sonho na carreira é ter um reconhecimento internacional do meu trabalho, é quebrar as barreiras territoriais, assim como alguns poucos atores conseguem, e atingir um público a nível global. Não quero que a língua ou a cultura sejam um empecilho, pelo contrário, quero poder expandir minhas conexões e poder falar para os mais variados públicos, seja em qual continente for.

Revelação sem medo


-Você teve algum receio em assumir um romance homoafetivo visto que de repente poderia “atrapalhar” sua vida profissional?


Igor Fernandez: Eu tive menos medo que artistas de gerações anteriores, que não tiveram as mesmas referências que eu hoje em dia enquanto artista LGBTQIA+.  Naquela época, isso era um tabu e o que se dizia era: “se assumir vai se queimar e nunca mais vai trabalhar.”, isso era uma ameaça grave, então não culpo quem não conseguiu ou ainda não consegue se assumir. Não é só uma questão de coragem, afinal nosso país mata pessoas só por serem homossexuais todos os dias, o problema vai muito além.

Eu, por outro lado, preferi dar as caras de quem eu sou logo na primeira oportunidade para servir de exemplo e suporte aos próximos que virão. Quando apareci com meu namorado em público eu estava no meio das gravações da primeira novela e não houve qualquer problema entre eu e a Rede Globo em relação a isso. Na verdade, fui muito parabenizado pela coragem de ser tão jovem e enfrentar isso de frente, e tenho certeza de que se eu precisasse de suporte da empresa eu o teria. Só não sei se diria o mesmo caso eu estivesse trabalhando em outras emissoras que ainda repetem comportamentos racistas e homofóbicos de forma explícita.