Ex-autor de novelas da Globo, Marcílio Moraes revelou que a emissora carioca censurou uma trama de Sonho Meu, novela das seis de sua autoria que foi ao ar em 1993. O escritor abriu o jogo sobre o folhetim reprisado no Viva e contou o que aconteceu.
O novelista contou em relato em seu perfil no Facebook que a direção da Globo interferiu na novela. De acordo com ele, os executivos do canal carioca alegaram que estavam recebendo cartas de telespectadores com reclamações, mas que as tais cartas nunca apareceram.
Censura na Globo
“‘Sonho Meu’: a interferência sofrida pela novela e os tempos atuais.
Outro dia revi, no Canal Viva, um capítulo de ‘Sonho Meu’, agora já na segunda fase. Fiquei triste e me voltou o sentimento de revolta com a interferência estúpida que a novela sofreu“, revelou Marcílio.
“Já contei várias vezes, mas sempre é bom repetir. Os figurões da Globo naquela época vieram com o papo de que a emissora estava recebendo cartas de protesto dos espectadores contra a bigamia da personagem Cláudia (Patrícia França)”, relatou.
“Nunca mostraram as tais cartas, certamente a opinião de meia dúzia de carolas, coisa absolutamente irrelevante. A ‘mulher não pode mentir para o homem que ama’, argumentaram os bambambãs… [risos]. Papo de machão corno, é ou não é?”, disse o escritor.
Interferência em Sonho Meu
Marcílio contou que Lauro César Muniz, que o supervisionava em Sonho Meu, ficou do lado dos diretores da Globo e mexeu na trama. Ele afirmou que a história foi esvaziada e confessou que sofreu um baque.
“O pior é que o Lauro, supervisor da novela, entrou no papo deles, ficou do lado dos mandachuvas e a interferência – violência, melhor dizendo – se consumou. O resultado pode ser visto nesta segunda fase da novela, atualmente no ar no Canal Viva”, explicou o novelista.
“Aquela força da história, aquela vitalidade dramática da protagonista, enfrentando Deus e o mundo para preservar sua dignidade de mulher e salvar a filha, se perdeu”, afirmou ele.
“A trama se tornou quase um vaudeville de intriguinhas típicas de novelinha das seis, tudo o que tentei evitar ao conceber a sinopse e desenvolver os capítulos. Imagino o quanto deve ter sido difícil para a atriz continuar desempenhando a personagem, depois de totalmente esvaziada. Para mim, também foi duríssimo“, disparou.
O ex-autor da Globo se mostrou preocupado com as intervenções hoje em dia. “Nos tempos atuais, em que vejo se generalizar a tendência de enfraquecer a autoria em favor do poder cada vez maior dos executivos, deixo este relato que mostra o quanto perde a dramaturgia quando se ameaça a autonomia do autor”, finalizou Marcílio Moraes.
Publicitário, roteirista formado pela Casa Aguinaldo Silva de Artes. Escreve sobre TV e famosos desde 2013 | Contato: [email protected]
